S.D.L.
Na sequência da publicação do novo Ritual para a Celebração do Baptismo das crianças, muitos dos baptistérios existentes foram considerados, nem sempre com justificação objectiva, inadequados para a celebração comunitária. Foram então abandonados e frequentemente substituídos por fontes baptismais móveis feitas das matérias mais díspares - até de plástico! - e de qualidade estética raramente aprimorada. Para a celebração de baptismos passou a colocar-se esta alfaia na área do presbitério das igrejas permitindo assim a realização do rito sacramental à vista de toda a assembleia congregada na nave.
Em alguns casos entendeu-se - e bem - que o recurso sistemático a uma alfaia portátil e exígua não é consentâneo com a importância que o sacramento do Baptismo tem na vida da Igreja, importância essa que reclama a existência de um espaço próprio, estável e permanente na igreja-edifício. Aliás, não é por acaso que tanto o Direito Canónico como a normativa dos livros litúrgicos determina que nas igrejas catedrais e paroquiais haja sempre a fonte baptismal: são essas as igrejas «matrizes», onde a Mãe Igreja gera novos filhos precisamente na matriz ou útero fecundo e virginal da fonte sagrada. Infelizmente, na concretização deste desígnio, a opção arquitectónica caiu por vezes no logro de reproduzir as colocações habitualmente adoptadas pelas lavandas baptismais portáteis: à frente da assembleia, nas adjacências do altar ou, pelo menos, no mesmo horizonte visual.
Em tempos de procura e experimentação, como foram os da primeira fase de aplicação da Reforma Litúrgica, até se compreende e desculpa esta confusão/sobreposição de espaços entre o Baptistério e o Presbitério. Hoje, porém, insiste-se claramente na afirmação da identidade própria de cada espaço e na sua adequada diferenciação. O pragmatismo superficial e uma concepção exterior e voyeurista de participação dão lugar aos valores emergentes de uma visão simbólica-sacramental. Bom exemplo desta correcção de rota são as orientações dadas pelo Episcopado Italiano em 1993 e 1996 para a projectação de novas igrejas e para a adequação das existentes às exigências da liturgia renovada. Respigamos desses documentos algumas frases:
«Não é possível aceitar a identificação do espaço e da fonte baptismal com a área presbiterial ou com parte dela, nem com um sítio reservado aos fiéis» «Tenha-se presente que o rito do baptismo se articula em lugares distintos, com os relativos "percursos" que devem ser todos facilmente praticáveis». «É de excluir a transferência do baptistério ou da fonte baptismal para dentro da área do presbitério, porque o baptistério é um lugar dotado de fisionomia e função própria, inteiramente distintas das do presbitério. A tradição, além disso, colocou-o geralmente na proximidade da entrada da igreja, como o melhor espaço para o sacramento que introduz na comunidade cristã. Por fim, o percurso da iniciação cristã vai do baptismo (fonte baptismal) à Eucaristia (altar): esse percurso deve ser posto em destaque pelo projecto de adequação». «Na colocação do baptistério deve evitar-se conferir-lhe uma posição e um papel proeminente ou até central na igreja, em concorrência com o altar».
Quem não estranharia se ao entrar na sala de jantar de uma família amiga deparasse com a mesa posta ao lado da banheira? Ora é isso, precisamente o que acontece em muitas igrejas. Só não nos chocamos com esta excentricidade ridícula porque nos tornamos insensíveis à dimensão simbólica da Liturgia: nem a Eucaristia é percebida e vivida como genuína refeição sagrada com alimentos autênticos nem o Baptismo é entendido e celebrado como aquilo que realmente é: banho do novo nascimento pela água e pelo Espírito...